A indigência brasileira é nossa inteligência

Quando soube da revisão da condenação de Vaccari, lembrei imediatamente de Prof. Silvio Meira. Cientista brasileiro respeitado e um de nossos melhores quadros na UFPE. Xará em nome duplo, pois ambos Romeros, Silvio já condenara Vaccari em um post do FaceBook desde sua prisão preventiva por Sergio Moro. É incrível — como pude dizer-lhe em comentário — que um homem inteligente como ele adote a presunção de culpa antes do julgado. Muito menos que um liberal, no sentido econômico, conceba um Estado com tal poder. É de nossa indigência intelectual, acredito.

Como é também indigente, ver-se ir as riquezas — eternamente pros mesmos — e achar que é tudo legal porque nos dizem ser. E ainda pensar: “Não foi golpe, não”. Exaspera! Como não ligar o CRÉU da prisão de um almirante brasileiro — pai, avô, tio! da energia nuclear no Brasil — com o LÉU do eterno interesse americano no segredo de nosso processamento de urânio? Falta o quê? Neurônios? com certeza não. Para se saber se há Justiça, tem que se saber a INTENÇÃO. E para tanto, basta ver a quem favorece uma decisão. Seja ela Judicial, Legislativa ou Executiva, não importa o PODER. E diga-se sobre o poder, o mais importante é o MIDIÁTICO.

A indigência intelectual de nossa geração — minha e do Prof. Silvio —, é fruto de uma ideologia que privilegiou a mão-de-obra técnica, orientada ao mercado, uma ideologia mecanicista que impessoaliza o indivíduo. Imagine o impossível! Um projeto de sociedade basicamente desigual, em que rotinas e algoritmos governam mais que o humano. Daí a indigência. Oxalá nos reserve melhor cenário!

A indigência brasileira é nossa inteligência

Menos fígado, mais planejamento

Tempos difíceis.

Todos sabemos que o mar não está prá peixe, só se dá bem os Tubarão.

Faz 5 meses que retirei-me da plataforma Facebook. Tenho cá minhas razões. No último dia do ano de 2016 fiz minha última postagem, acessei apenas a fim de organizar minha saída nos primeiros dias de janeiro. Cito, pela surpresa que me causa tantos amigos da plataforma a dizer que lhes faço alguma falta. Sempre pelo meu lado político. Amigos encontrados, que se entenda, em carnes e ossos e de tempo presente. Nestes tempos, de tanta perda de tempo e assincronia, com narrativas criadas mais a esconder e menos a mostrar, até que dá vontade de postar alguma coisa. Fica para outro dia. Chega de análise de conjuntura, Tem que se ter metas e planejamento. Menos fígado, s’il vous plait. O tempo da mediocridade já passou.

Meta PRIMEIRA: Restituir a DEMOCRACIA. Nem se discute.

PRIMEIRA TAREFA: ganhe as ruas. Saia dessa redoma virtual, dos simulacros e do simbólico, é na vera! Olho no olho, para que os justos se revelem e os falsos se envergonhem. Que se é prá ser messiânico, a gente também leva.

SEGUNDA TAREFA: ignore a Globo. A Globo será a Manchete amanhã. Lembre dos Marinhos. São 3. Ignore, no sentido de cague e ande, mas meta o pau sempre que puder. A Globo não cabe na DEMOCRACIA.

TERCEIRA TAREFA: acho que deveríamos ler o plano popular de emergência: https://t.co/otW6abpUKh

Por hoje é só. 🙂

Menos fígado, mais planejamento

Ducking stool no dos outros é refresco

Editado em 27.mar.2017

Nos últimos meses, tenho pensado muito nessa cadeirinha aí da foto abaixo. Ela fica em Canterbury e tive a “felicidade” de vê-la em loco. Lembrei dela mais uma vez na sexta-feira, 4 de março passado, e hoje (ontem, se considerar apenas a hora em que escrevo).

weavers2Fonte: stalking cats and knitting socks 

Este singelo artefato tinha 3 utilidades: duas como forma de punição e uma terceira de investigação. Não sei bem por quais artes cognitivas, apesar de saber por que, meus neurônios a ligam invariavelmente às atividades de nosso aparelho jurídico-policial. Ao longo desses 2 extensos e cansativos anos da operação Lava Jato, repetidamente a imagem da cadeirinha na ponta de uma gangorra à beira do rio Stour me vem à mente. Das três utilidades, a terceira é a que estabelece essa relação. Explico. Este engenhoso instrumento era usado para investigar a veracidade da acusação de bruxaria contra a qual as infelizes mulheres de Canterbury estavam a mercê. O procedimento investigativo era muito simples. Pegava-se a acusada atada à cadeira e a mergulhava-se dentro do rio durante uns 3 minutos. Ao fim do período, caso sobrevivesse, estava comprovado que era bruxa e daí era queimada viva. Se não sobrevivesse, coitada, era inocente, e sua família então recebia uma carta da Igreja pedindo desculpas e seu enterro em solo sagrado permitido.

Nossos procuradores do Ministério Público e o juiz Sergio Moro atuam de forma semelhante. Encontram primeiramente o criminoso – sempre de um mesmo gênero – frequentemente através da acusação de alguém da vila, o qual não precisa apresentar muita coisa, apenas delatá-lo. Naquela época seria algo como “ela cria um gato preto!”. Atualmente basta uns pedalinhos. Conduz-se coercitivamente, para estar na moda, o acusado à cadeirinha e põe-se a mergulhar o réu num mar de acusações de forma repetida e incansável. De novo, anteriormente uma turba à beira do rio gritava “é bruxa, é bruxa!”, hoje a Rede Globo desempenha esse papel de forma um pouco mais dissimulada. Ao cabo do procedimento, inocente ou culpado, o acusado encontra-se sempre condenado.

Viva a Justiça brasileira e seus instrumentos de investigação criminal! Oxalá um dia, eles repousem em algum espaço público, tal e qual a ducking stool de Canterbury, apenas como recordação de um tempo medieval.

Ducking stool no dos outros é refresco

Não, é o que não pode ser

Em abril de 1977 eu era um adolescente de 15 anos. Educado em 2 dos melhores colégios da cidade, membro de um grupo jovem da Igreja Católica, participante frequente de retiros para estudos de liderança cristã, filho de um pró-reitor da UFPE em plena ditadura, testemunha ocular e auricular de variados debates políticos na minha casa com a presença de quilates tipo Severino Cavalcanti, Sergio Guerra, Cid Sampaio, entre outros. Também já havia sido iniciado na leitura das encíclicas papais de cunho social como Rerum Novarum, Mater et Magistra, etc. Enfim, tudo para ser um coxinha. O que deu errado, meu Deus?

Entre muitas outras coisas que me fizeram ao longo dos 7 anos seguintes caminhar em direção ao espectro político oposto, identifico o Pasquim, o qual lia por diversão, mas que deixava incômodas pulgas atrás de minhas orelhas, e um conjunto de fotos de algum órgão de imprensa que não recordo qual sobre o fechamento do Congresso. Naquele mês, mais precisamente no dia 1º de abril, o general-presidente Ernesto Geisel, amparado pelos atos institucionais promulgados pelo regime militar, fechou o Congresso Nacional por 14 dias (1). O período era eufemisticamente chamado de Recesso. Durante ele, alterou substancialmente as regras do jogo, instituindo entre muitas outras coisas a figura do Senador Biônico que nada mais era do que uma forma de barrar o avanço da oposição ao regime militar. As fotos, com seus militares nas ruas de Brasilia e os corredores do Congresso vazios foram para mim mais eloquentes do que qualquer discurso. Compreendi, num átimo, que toda a capa de legalidade democrática com a qual se procurava revestir a ditadura era uma farsa. Até então, apesar de estranhar o fato de não se poder votar para prefeito de capital, governador de estado e presidente da República, aceitava o discurso de que havia eleições e escolhíamos nossos representantes, logo, havia democracia. Apenas seguíamos um modelo, através de leis, diferente de outros países. Naquele mês, compreendi que apesar de legal, pois se apoiava nos AIs, o ato do presidente não era justo. Foi ali que finalmente me caiu a ficha, o fechamento do Congresso desvelou o verdadeiro caráter do regime para alguém que era jovem demais para tomar ciência ou compreender os primeiros anos do golpe militar.

Sexta feira passada, presenciamos a mesma atitude autoritária que se repete vez por outra no Brasil desde a proclamação da República. Há certamente um conjunto de leis que respaldam parcialmente as atitudes dos operadores da Lava-Jato, enquanto outras decisões são flagrantemente ilegais. A condução coercitiva de alguém que sequer foi intimado a depor, logo não poderia ter-se recusado e finalmente obrigado, é um ato – além de brutal, autoritário, desmedido – acima de tudo ilegal. De nada adianta argumentar que já se fez o mesmo com mais de uma centena de investigados, só piora, e revela o real caráter justiceiro e inquisitorial da operação. Revela também que, ou as instituições responsáveis para controlar os desmandos e excessos do aparato jurídico-policial estão de joelhos diante de um juiz de primeira instância, ou estão de acordo com a ilegalidade e autoritarismo desmedido do Estado contra nós, cidadãos. É grave. A nota do Juiz Sergio Moro argumentando que o fez para preservar a segurança do presidente Lula é simplesmente cínica. Não vale sequer comentar um argumento tão hipócrita.

Esta semana começa a ganhar corpo na sociedade a compreensão de que toda essa operação, em clara parceria com nossa mídia golpista, visa na verdade a aniquilar o projeto de país iniciado pelos governos do PT. Os elementos começam a evidenciar que trata-se verdadeiramente de uma ação que atende exclusivamente aos interesses geopolíticos americanos (2). Aos que acham que isso não passa de devaneio conspiratório, lembro que o mesmo argumento era posto diante da acusação de interferência dos americanos no golpe de 64 e que hoje sabe-se a verdade através de documentos dos próprios.

A Moral dessa história toda é, se tem cara de jacaré, pele de jacaré, tamanho de jacaré, não é chamando de lagartixa que deixa de ser jacaré. Se duvidar, experimenta cutucar a lagartixa.

(1) https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&cad=rja&uact=8&ved=0ahUKEwiehePHzLPLAhVLI5AKHVjVBncQFggdMAA&url=https%3A%2F%2Fcpdoc.fgv.br%2Fproducao%2Fdossies%2FFatosImagens%2FPacoteAbril&usg=AFQjCNG79Ed6pbtWNLp6Hc2H_TqTq1zoRA&sig2=5Ldpi9a8vQl6_PYW4euIeA

(2) http://jornalggn.com.br/noticia/lava-jato-tudo-comecou-em-junho-de-2013

Não, é o que não pode ser

O grande inimigo é a Globo

Eu sempre fui um otimista. Em 1989, depois do debate de Lula e Collor, ainda acreditava na eleição do primeiro. Não contava com a edição do debate pela Globo, nem com as imagens de seqüestradores de Abílio Diniz vestindo camisas de Lula, nem com a retirada de ônibus pelos empresários no dia da eleição país afora. Em 2012, achava que o STF iria cortar os excessos da AP470. Não contava com a força de uma mídia uníssona e justiceira. Meu otimismo novamente me iludiu em 2014. Pensava que Dilma, depois da vitória obtida, iria crescer politicamente, mais tarimbada e sem a pecha de ser uma mera escolhida por Lula. O que me parecia uma circunstância do primeiro mandato, revelou-se uma característica da presidenta. Sonha Marcelino! como dizia minha mãe em referência ao filme Marcelino, Pão e Vinho. Besta é tu (eu), segundo os Novos Baianos.

Nada é mais deletério do que o papel que nossa mídia oligopolizada e monocórdica perpetra diariamente e desde sempre. Quando em períodos de poder, esconde e venera seus representantes, realizando grandes negócios na base da camaradagem brasileira (http://www.viomundo.com.br/denuncias/nos-meses-finais-de-fhc-no-planalto-bndes-salvou-net-da-familia-marinho-com-injecao-de-r-300-milhoes-ou-80-do-dinheiro-novo.html). Quando nos curtos períodos de forças populares no poder, desvela-se no verdadeiro partido oposicionista brasileiro. Em ambos os períodos, interdita o debate que nos importa e pauta os corações e mentes de nossos compatriotas (http://jornalggn.com.br/noticia/o-crime-dos-pedalinhos-e-a-geopolitica-da-lava-jato).

O crime do momento se traduz nessa luta fratricida contra o dragão da maldade, representado por essa entidade genérica: a corrupção política. Só a política, diga-se. Nessa cruzada pelo Bem, matam-se todas as oportunidades e entrega-se mais uma vez o Brasil aos vendilhões de templos. E enquanto isso, a camada mais bem formada, com anos de estudo e ciência, faz coro contra aquilo que tomam como nosso mais grave problema. Corrupção não é privilégio brasileiro nem nosso maior problema. Podem vociferar, espernear, soltar impropérios, etc., simplesmente não é. Deve ser combatida e seu combate sempre aprimorado, é claro. Mas quando se torna uma cruzada moral, acima de qualquer outro valor, perde-se no caminho e leva-nos todos a um deserto. O que nos adianta acabar com a corrupção da Petrobras e ao mesmo tempo com a cadeia nacional de petróleo e gás? Que nos serve enquadrar os corruptores e fechar as maiores empresas de engenharia? Prendam-se os corruptos, melhorem-se os mecanismos de controle, mas preservem nossas empresas e nossos empregos. A grande imoralidade brasileira está em manter na miséria a maioria de nossa população. Essa bandeira não aparece na mídia a não ser em forma de lágrimas comoventes, que visam apenas a aumentar as arrecadações dos Crianças Esperanças da vida.

A dificuldade de se manter um debate racional e bem informado deve-se a um poder de vocalização sem paralelo que a mídia brasileira possui sobre a sociedade. Nada a surpreender-nos. São décadas de não enfrentamento. E se depender de líderes políticos, ficaremos na mesma. Ou tomamos para nós essa tarefa, ou estaremos destinados a sermos o capacho americano do cone Sul. Se você desligar a Globo, o Brasil melhora. Simples assim.

O grande inimigo é a Globo

O governo Dilma acabou

Se é que chegou a começar. Começou a acabar quando aprovou-se o regime de partilha do pré-sal. Ali, ao fim do governo Lula, acabou-se o governo Dilma, ainda não empossada. É preciso pensar em termos geopolíticos e conhecer uma parte da História recente do país para entender. Imaginar quais são os planos americanos para nossos recursos minerais. Claro, bastaria um pouco mais de inteligência coletiva do governo e menos burrice da oposição para que tivesse realmente começado. Nas poucas iniciativas que teve, a única que iria nos libertar definitivamente, a queda planejada dos juros, foi prontamente abandonada ao menor sinal de marola. A diferença que um líder e um técnico competente apresentam.

Quando a União Soviética esfacelou-se, abrindo as portas para uma suposta hegemonia americana sobre o mundo, o Brasil mantinha ainda a série de barreiras comerciais construídas ao longo de dezenas de anos para proteger a indústria paulista e o eixo de poder sudestino. Isso trazia vantagens e desvantagens, como tudo na vida. Havia uma indústria nacional, conseguida a muito custo, especialmente às regiões periféricas como o Nordeste, porém ineficiente. Entre as vantagens, o conceito de patrimônio da União sobre as riquezas do subsolo, o maior patrimônio brasileiro. Basta ver os índices comparativos entre países das reservas brasileiras.

Essa riqueza, de posse de empresas estatais, foi dilapidada no processo de privatização operado pelos governos do PSDB. Em total conformidade com os planos americanos para o mundo. Independente de ser ou não necessária, a privatização poderia ter sido operada de outras formas (vendendo ações nas bolsas como fez a musa neoliberal Margaret Thatcher, por exemplo). Escolheu-se uma que privilegiou os amigos e ao Povo, nada. Simples assim. Ao se descobrir o Pré-Sal e se instituir um engenharia financeira diferente no sistema de partilha, tentou-se duas coisas: 1) preservar a ordem jurídica montada nos tempos de FHC para não ser acusado de quebra de contrato; 2) escapar dessa lógica, além de perversa, burra. Burra porque nos empobrece e qualquer escroque mediano sabe que é melhor ser escroque entre ricos do que entre pobres. Ou seja, nem na filha-da-putice nossas elites conseguem ser inteligentes.

Esta semana, demonstrando pela enésima vez a sua incapacidade política, o Governo Dilma amarelou. Correu a fazer um acordo sem sintonia alguma com o plenário e as bases sociais em que hoje unicamente se sustenta. Como um autista, o Governo não parece ver a realidade que lhe cerca. Entregou de bandeja o futuro do Brasil e de seu Povo num jogo que melhor seria ter perdido, mas lutado até o fim. Acabou-se. O que vai se por no lugar será com toda certeza um retrocesso. Seja qual for a solução. No rescaldo, acabam-se por completo as nossas referências simbólicas da política. Para todos os lados. A solução à esquerda é a maior frente que se puder construir em torno de valores claros e precisos: Soberania Nacional, Democracia, Estado de Direito, Justiça Social, etc. Para ver se com bandeiras simples e claras consegue-se construir um corpo social forte o bastante para fazer frente à reação conservadora em curso. O momento nunca foi tão propício. E urgentemente necessário.

O governo Dilma acabou

Desliguem-se os drones midiáticos

Havia considerado manter este blog com alguma frequência em 2015. Que ilusão. Volto hoje, tentando amealhar um pouco as idéias.

Primeiro que tudo, que 2015zinho esse! E 2016 não parece melhor na foto. Hoje mesmo, se estou certo, entrega-se o pré-sal no Senado mais tarde. Como não devo publicar essa postagem logo, deixo aqui o registro, escrevo às 18h30 de 23.02.

Em curso, mais um golpe com a participação dos conglomerados midiáticos. Agora com o aparelho jurídico brasileiro. Há que reconhecermos, é um avanço! Antes era na porrada! Mas a cada dia a grande farsa mais clara (http://jornalggn.com.br/noticia/o-golpe-judiciario-ja-esta-na-etapa-final-por-andre-araujo). Sei que é um saco, haja paciência! Mas já foi bem pior. É um equívoco pensar que o Poder se resume a uma posição eletiva, onde nossos votos contam. A estrutura, o sistema, tem seus recursos. O Estado existe, a princípio, para manter o o status quo, identificado com a Ordem e o Legal. O 1% existe à base de muita Expropriação.

Há outros méritos a reconhecer! Obedece-se a um calendário muito bem articulado com as forças golpistas de sempre. Ensaiadíssimo! tanto que leva-me à pergunta: quem dirige? Efetivamente, quem dirige a Operação Moro-Mendes? Que roteiro! Eu respondo que esse roteiro foi elaborado a partir das escutas da NSA com vistas a retomar controle sobre o pré-sal. O momento em que quebrou-se o esquema montado na era FHC para os recursos brasileiros, ao se aprovar a lei de partilha para o pré-sal, começaram os problemas do governo Dilma (http://tijolaco.com.br/blog/a-um-passo-de-entregar-o-pre-sal-e-a-obra-coletiva-de-paulo-roberto-costa-sergio-moro-e-jose-serra/). O plano geral de ação pode ser lido em artigo do juiz Sergio Moro, de 2004 (http://jornalggn.com.br/sites/default/files/documentos/art20150102-03.pdf), onde defende claramente a estratégia de vazamentos seletivos à mídia. Mas o timing exige articulação central, uma direção. Quem está dirigindo esse roteiro?

A falta de intimidade das camadas progressistas com o Poder é nossa falta. Poderíamos compensa-la com estudo, mas temos baixa formação política. Deveríamos ler e discutir mais os cientistas sociais, os grandes clássicos. Mais quais são? A minha geração, formou-se numa quebra da Normalidade Legal que teve implicações práticas de muitas ordens. O vácuo de lideranças à esquerda, uma delas. Escolas e ensino desumanizado, outra. Temos grandes problemas políticos e sociais pela frente. E uma sociedade civil desorganizada com focos de organização e conhecimentos sociais aqui e ali. Há bons sinais nesse campo, vindos dos estudantes de São Paulo e da luta local pelo Estelita.

Aqueles que querem a volta de um Brasil de esperança precisam entender que a batalha é simbólica, pelos corações e mentes dos brasileiros. E para tal, o grande alvo tem que ser o aparelho midiático, ele é o verdadeiro inimigo. Seja qual for a patranha, ele é quem dá o suporte simbólico. Dentre ele, quem mais importa ser atingido é o sistema Globo. Grande beneficiário do golpe de 64, até hoje!, e participante de todos os golpes desde a era Vargas. Sempre esteve contra os movimentos democráticos, a lista é infinita, mas o principal a dizer é do agora. Interdita o debate, pautando o irrelevante e secundário. Inaceitável é a diferença de renda brasileira! A desigualdade social! As regalias de castas e isenção de impostos sobre a riqueza. Há uma crise sistêmica sem precedentes na economia mundial. Associada a um ponto crítico na história da sustentabilidade da Terra. Nossa mídia, que poderia ser nossa grande aliada, ajudar-nos na construção de nosso futuro como Povo, prefere pensar de forma pequena, de usufruto, com o olho no heliporto que falta construir naquela reserva natural.

* Em tempo, aprovou-se no Senado o regime de Urgência para o Projeto de Serra, por 33 a 31.

Desliguem-se os drones midiáticos

Hostes ou hordas, eis a questão?

A aparente decepção, em muitos companheiros de luta, com o 1/2 Ministério da Dilma chega quase a ser cândida. Não é, porque é fruto de uma também quase tragédia. Revela que havia esperanças além da conta. O que por si só é trágico.

Revela também uma dificuldade nossa em ver-nos separados do Governo. Nossa primeira tarefa deveria ser compreender que apesar da candidatura Dilma só ter conseguido vencer por conta daqueles que, como eu, deram seu tempo, suor e juízo, não vencemos sozinhos. Foi assim também em 2010. Deixássemos por conta dos partidos, aquela bolinha de papel teria se tornado um bólido mais espetaculoso do que a tentativa de assassinato que Youssef sofreu no dia da eleição de 2014. Estes 2 golpes midiáticos só foram desmascarados graças a nós, em rede.

Há muitas forças entre as que perfilaram com Dilma. É preciso reconhecer que há muita diversidade de ideias e rumos desejados. Tenho absoluta clareza que em qualquer composição do Governo Federal estarei sempre mais a esquerda. Provavelmente olhando para tantos grandes amigos que certamente estarão ainda mais a esquerda um pouquinho. O Brasil não é brinquedo, meu caro. Vindos de onde viemos, há muito o que fazer. E é preciso, acima de tudo, escutar as urnas. O Governo percisa acomodar as forças que lhe deram a vitória. E Governo não é Partido, nem Povo, muito menos Sociedade Civil Organizada.

Há limitações sérias em nossa sociedade para o avanço das forças progressistas. A maioria delas deveriam ter sido varridas junto com a Ditadura. Mas somos um povo cordato, ou éramos, ou foi assim que se fez crer que fôssemos. Nossas soluções sempre foram negociadas*. Nada contra a negociação antes de tudo, só o fato de que a maioria sempre se lascou na correlação de forças. E por termos ficado com muito do entulho da Ditadura, sem por a mesa em pratos limpos na solução Tancredo/Sarney, ainda lidamos com este Poder absurdo que se espraia dos estamentos mais altos da Sociedade Brasileira. Onde umas poucas famílias interditam o debate político que nos interessa através de um monopólio das verbas publicitárias. É apenas um exemplo. Há outros. Parece que tem um tal de Bolsonaro e seus parelhas, não é mesmo?

Gosto das escolhas da presidenta Dilma ao compor seu 1/2 Ministério. Ela acomodou bem forças relevantes que a apoiaram na talvez mais sangrenta das 7 eleições presidenciais de nossa Democracia Restaurada. O período mais longo sem golpes militares, diga-se. (Golpes midiáticos são outra história). Gosto mais da tática do que dos nomes, claro. Simbolicamente é uma desgraça. Ter uma Katia Abreu na pasta da Agricultura parece até loucura, para não mencionar escárnio. Fiquei no entanto feliz em observar que após a má repercussão de seus elogios ao incrível Gilmar Dantas (sick), ela parece que aquietou o facho. Vamos ver qual o trabalho que nos vai dar. Essa questão do simbólico é grave, uma perda que não é pequena. Mas disso falo, se amealhar juízo suficiente, outro dia.

Não há por quê esperar que o segundo mandato Dilma, quarto petista, seja um governo de esquerda. Será um governo de coalizão, coerente com a diversidade ideológica brasileira. A nós, mais a esquerda, cabe a organização, a articulação, a atitude democrática de construir consenso em torno das pautas das variadas lutas. Diversos pontos de pauta e muitas visões a respeito: Reforma Política, Reforma Urbana, Democratização da Mídia, Taxação Progressiva da Riqueza, Educação de Qualidade, Desenvolvimento Sustentável … Pode acrescentar, faz favor. Feliz 2015!

* salvo engano, pagamos a Portugal por nossa independência com um empréstimo obtido na Inglaterra que começamos a pagar antes de receber o principal.

Hostes ou hordas, eis a questão?